domingo, 18 de janeiro de 2015

Makembe 50º

Makembe 50º


Capítulo um
Makembe
O relógio na praça central, de onde saíam às dez vielas que formavam o vilarejo, marcava 42º.
 Turíbio (Boca de Sapo) Fortes, prefeito do município de Makembe achara mais importante
 colocar na praça central um grande relógio digital marcando, temperatura, hora, dia e mês do ano,
 do que fazer saneamento básico e levar água potável para dois terços da população de 4000 pessoas
. Armandão, assim conhecido pela sua estatura, pouca conversa e pouca paciência já tinha opinião
 formada sobre “Boca de Sapo”, era assim que o prefeito Turíbio era conhecido e pronto.
 Cidade pequena, quando o apelido pega não tem para onde fugir. “Inclusive o prefeito usou
 o slogan ‘ A lagoa pode estar poluída, mas o Sapo não” Vote em Boca de Sapo para prefeito.
 Armandão encharcado de suor fez sinal de mais uma pinga para Neutacir, dono do ensebado
 boteco. Neutacir tinha seu boteco lotado, com as figurinhas carimbadas, assíduos e até
 frequentadores eventuais. Mas o silêncio era tão grande que se podia ouvir o zumbido das
 moscas na s exatas duas horas da tarde, como marcava o insuspeito relógio. Todos pareciam
 esperar um grande acontecimento. Repentinamente, na viela três, casualmente a que ficava
do outro lado da praça e diretamente em frente ao bar, parou uma charrete com toldo e dela
desce Diamantina, a terceira esposa do Boca de Sapo, que tinha um terço da sua idade.
 Armandão levantou-se e todos puderam ver seu marca touro nas costas e o quarenta e
 cinco na barriga, ambos enfiados na guaiaca, espécie de cinto largo com vários bolsos
 coldres e presilhas. Albeneir, disse Armandão com sua voz calma de trovão, ao bigodudo
 de chapéu enfiado que parecia dormir sentado a seu lado. Traga o cocheiro.
 Mal terminou de falar o homem que apresentava uma sonolência pachorrenta agora voava
 em seu zaino em direção à charrete. Mesmo com o silêncio não se ouvia palavra pela distancia
 do bar a charrete com a grande praça do relógio no meio. Mas se assistia a tudo como um
 filme mudo, Diamantina parada com duas maletas e o cocheiro no chão, atirado com apenas
 um safanão de Albeneir. Bota de garrão no pescoço, o Urubu, assim era chamado o cocheiro
 foi desarmado por Albeneir, inclusive requisitando sua espalha-chumbo acoplada em baixo
 do banco da charrete. A mulher abriu a bolsa e o telefone velho e ensebado do boteco do
 Neutacir trinitou quatro vezes, todos estavam paralisados com os olhos em Armandão,
 inclusive o botequeiro que não ousou tocar no telefone, na quinta Armandão atendeu
 e disse, venha até o meio da praça e fique na sombra da geringonça, era assim que
 ele chamava o relógio do prefeito que agora marcava 43º, mas a sensação térmica devia
 passar dos cinquenta. Quando a moça de costas para a cena da charrete chegou à sombra
 do relógio, Albeneir Disparou o 38 cano longo na cabeça do Urubu. “PEC” foi o único
 barulho que se somou aos zumbidos das moscas. 
Fim do primeiro capítulo segue em breve.


Segundo capítulo
Mazembe
Armandão esperou Albeneir voltar e antes que esse descesse do cavalo foi até ele.
 Mandei trazer o Urubu e não matá-lo. Quando o atirei no chão, peguei o cano
 curto e a espalha chumbo e senti uma coceira no saco. O feledaputa tinha um
 22 na manga e tentou me acertar o estômago, se não atiro estou morto,
se bem que bala de vinte dois tiro com a adaga e boto creolina por cima
 e estamos conversados. O grandão sacudiu a cabeça em aprovação e disse;
 ele vai juntar os jaguar e vem com tudo, pega os cavalos que vou charlar com
 a china. Albeneir fez a volta no boteco e veio com dois alazões pretos e olhou
 o caminhar ébrio de Armandão que se dirigia ao relógio. Todos os fregueses
 se amontoavam na porta, mas, ninguém se atrevia a por o pé para fora. Gordo,
 disse Albeneir para Neutacir, o bolicheiro, enche um saco com pinga, 3 kg
 de charque e muito torresmo, ah, carrega também no fumo de corda e atirou
 quatro patacas de ouro no chão. Eu pensei que a princesa não vinha,
 disse Armandão a Diamantina. E eu pensei que teus tempos de assassino haviam
 terminado. Hoje não matei ninguém, respondeu. Mas o Albeneir matou
 o Urubu, que é quase a mesma coisa. Princesa, ele só fez o furo quem
 matou foi deus e de mais a mais o safado atirou nele, mesmo deitado,
 para matar. Qual resposta tu esperavas de um índio xucro como Albeneir?
 Eu vim para fugir com o homem que amo e não para viver de saques
 e mortes, desabafou Diamantina. Agarrando as malas o homem disse,
 vamos montar e sumir para viver em paz, tu te apaixonaste por mim
 por saber que faço o que é certo no meio da injustiça total. Albeneir
vinha a trote puxando os dois ‘marca peixe’ e a mulher seguia seu amor
 sem olhar para trás. Mas Armandão sentiu a maldade quando o seu capanga
largou os dois cavalos e se agarrou, à moda Charrua/ Minuano, na lateral
 do garanhão e foi torneando a praça.
Breve 3º capítulo.


Makembe
Capítulo terceiro
Cinco capangas entraram pela viela dois e mais cinco pela viela oito,
 Boca de Sapo ladeado de Tristonho e Preto Boi entraram pela viela três
. Gauchos sem terra e sem lei que arrumaram emprego e acolhida com o
 prefeito, que em verdade era o coronel do vilarejo, com amplas extensões
 de terra e sem satisfação a ninguém. Quanto mais nome um homem
 matador tem mais os jovens querem mata-lo. Toneco disparou o pingo
 em direção ao casal na praça, 50º graus era pouco, faça chuva ou faça sol
 Armandão não tirava o poncho, apenas o jogava para as costas e debaixo
 desse um winchester de repetição que explodiu a cabeça do jovem Toneco.
 Albeneir disparava a kalashnikov, protegido pela traquitana do prefeito,
 matou seis e ainda deixou que Diamantina e Armandão subissem nos alazões
 Mas Armandão com um gesto mandou que Albeneir e Diamantina sumissem
 pela vilea dez a que levava ao campo com suas boçorocas, capões e
 irregularidades traiçoeiras. Em cima do cavalo, sob fogo cerrado de metralhadoras,
 pistolas e revolveres, como um alvo imóvel mirou a testa do prefeito e puxou o gatilho.
 Tiro dado, bugio deitado. Tiro certeiro de duzentos e cinquenta metros e contra o sol.
 Morto o patrão Tristonho e Preto Boi, assassinos pagos, não viram mais futuro
 em enfrentar Armandão, pois logo teriam outro chefe a defender e agricultores a matar.
 Mas os jovens gauchos da linha de frente, movidos por uma moral incompreensível,
jamais conseguiriam voltar para seus chalés com o gosto da derrota e atacaram atirando
 com armas pesadas o solitário Armandão que já embalado no cavalo, ao invés de entrar
 na viela para a fuga adentrou com seu bicho preto no boteco do Neltacir, voou por cima
do velho balcão e saiu com cavalo e tudo levando a porta dos fundos por diante. Viu ao
 longe Albeneir e Diamantina, mas seguiu para outro lado com cinco jovens gaúchos a
 lhe alvejar. No galope ferrado, com cocurutos, sobes e desces é difícil dominar uma
 metralhadora e foi assim que Adãozinho matou Orfeu que ia a sua frente. Agora eram
 quatro, as duas garrafas de cachaça começavam a estremecer Armandão que parou,
 se virou e viu os jovens gauchinhos caçadores de fama, soltando fogo pelas ventas
 e pelas armas pesadas. Eram ginetes a toda prova, cavalgavam seus pingos atirando
 com as duas mãos. Distava uns 300 metros dos inimigos e com o 38 na direita e
 o quarenta e cinco na esquerda esporeou o mancha negra e foi em direção aos seus
 perseguidores, com tal inversão suicida desconcertou os gauchos e com isso os
 deixou alvos mais fáceis. Estourou a cabeça do Xiru, um dos quatro e abaixo
 de balas matou o Carneiro, a melhor pontaria da jovem gauderiada. Em seguida
 quase a queima roupa derrubou Machuca, paraguaio atirador, mas não matou e deu
 mais um tiro na cabeça para completar a obra, só que se esqueceu de Adãozinho que
 com um balaço lado a lado arrancou sua orelha, retribuindo atirou para matar o safado,
 mas o quarenta e quatro só fez clique, tambor vazio. Postou o zaino de lado para que
 seu adversário tivesse menos ângulo, os cavalos quase bufavam um no rabo do outro
 em uma circular dança macabra, Antes que Armandão conseguisse sacar o cano curto
 preso à bota tomou mais dois tiros um de raspão no pescoço e outro no ombro,
 os cavalos e cavaleiros estavam exaustos, mas Adãozinho excitado por estar a matar
 o maior matador vacilou e foi quando Armandão pulou na garupa do cavalo do inimigo
 e com seu marca touro lhe pôs a gravata vermelha.
Breve capítulo final.

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