Sobre a Luz
Por Ângelo Macarius
Lucifer por Franz von Stuck
1922
A
sombra passou pela escadaria...Em outra cena a luz se reflete em um
figurino escuro...Um careca se levanta de forma misteriosa de um caixão,
há luz, mas o figurino de tão taciturna e terrível figura não reflete a
luz...Uma senhorita de vestes claras e cabelos escuros levanta
assustada e de sobressalto...A locação não reflete a luz...E no momento
em que aquela figura sobrenatural fita a câmera como se reivindica se um
espaço no intimo do espectador, se deu uma ponte de total
identificação.O monstro era o espelho...o espelho trouxe alguma coisa
submersa a tona ... Terminada mas uma seção de Nosferatu de Murnau.Eu
não estava lá, isso foi só um devaneio, tomei a liberdade de imaginar
como seria para o homem daqueles tempos uma seção cinematográfica a
cerca do mito da tediosa imortalidade do vampiro.
O Sol não nasce...essa impressão é apenas resultado do movimento que por força das leis da física não percebemos.É a sombra do próprio planeta que enxergamos quando dizemos que a lua é nascente.A sombra é produto da luz...É uma questão tão obvia que seguramente pode causar estranhamento quando figura em um texto do século em que vivemos, mas para o homem primitivo as coisas não funcionavam bem assim.O homem primitivo tinha o Sol, a Lua, astros e estrelas como deuses,deusas e etc. A afirmação da dualidade da natureza que se dá pelo contraste dia e noite, era percebida pelo homem antigo de outra maneira...Na antiguidade, as culturas agrárias reverenciavam o Sol como símbolo Maximo de divindade, eram culturas que valorizavam a belicosidade, a conquista e a divisão de territórios e as culturas que se dedicavam a caça, cultuavam a lua.Aqueles que cultuavam o Sol eram de inclinação marcial e bélica, e os que cultuavam a lua eram de inclinação sensorial e matriarcal.Percebe se claramente a predominância do positivo(másculo , solar , vigoroso, combativo) por parte dos agricultores, e do negativo (feminino, sensorial, intuitivo e umido)por parte dos caçadores.Hoje, distante do tempo em que os “ancestrais históricos” de tais culturas declararam que o divino estava visível no céu, chamamos o Sol, Lua, estrelas e planetas de Astros, corpos celestes e etc.A ciência trouxe o racional a “luz” e hoje encaramos as divindades depostas como objetos que se encontram no céu a obedecer leis mecânicas.A dualidade é um imperativo na historia da humanidade.Assim o é com a imagem.Tenho aqui em minhas mãos uma reprodução em impresso de um quadro de Caravaggio que data de 1602, intitulado São Matheus, aonde não figura planeta algum, e sim, um anjo, o mediador entre aquilo que vemos e oque não vemos, e embora o jogo de luz e sombra não privilegie nenhum mas que o outro, o Anjo encontra se enrolado em um tecido de extrema alvura, e uma aureola se insinua ao redor da cabeça do Santo.Justo no ano em que Kleper publicava sua defesa da astrologia, nada podemos encontrar de referente aos planetas que não seja a semelhança do anjo com algumas representações de Heros, filho de Afrodite (vênus) e amante de psique...E é para pisique que devemos voltar os olhos agora para podermos continuar esse pequeno ensaio sobre a questão da Luz no cinema.Não podemos jámas sermos crédulos como a geração de nossos avós, mas não há como nos vermos livres das imagens sugeridas por esses anos de historia e “estória”...Os signos, símbolos, arquétipos e etc, estão entranhados na psique coletiva a nível inconsciente.Aqui reside mas um fator dicotômico que gostaria de salientar.Por mas que o dr.Freud fosse antagônico a hipótese de inconsciente coletivo de Jung, a grande maioria dos complexos e funções catalogados por Freud, foram batizados com nomes de mitos ou de personagens da literatura clássica...Complexo de Édipo, de Eletra, de Peter Pan, de Sinderela, Eros, Psique...Parece haver ai uma concordância mesmo que “inconsciente” de que o mito é uma verdade psicológica auto gerada e constantemente reciclada de acordo com as exigências do tempo.Nosferatu é um filme que não goza da tecnologia que temos hoje.Falemos um pouco de Lavoura Arcaica de Luiz Fernando Carvalho, considerado um marco da retomada.A cena de abertura é escura, o quarto é escuro, e a falta de iluminação reflete uma profunda solidão e inclinação ao isolamento.Nas cenas que retratam a infância do personagem, há claridade...os tempos eram outros e ricos em atribuições domesticas, tudo é bom e parece seguir o fluxo da natureza, aquele desejo proibido ainda não veio a luz, ainda não se evidenciou, ainda não se afirmou como produto da sombra...Há um contraste evidente entre luz e escuridão que se presta ao conflito intimo da personagem e ao conflito do mesmo com os padrões morais.Como Freud já dizia, “A essência dá sociedade é a repressão do individuo.A essência do individuo é a repressão de si .”
O Sol não nasce...essa impressão é apenas resultado do movimento que por força das leis da física não percebemos.É a sombra do próprio planeta que enxergamos quando dizemos que a lua é nascente.A sombra é produto da luz...É uma questão tão obvia que seguramente pode causar estranhamento quando figura em um texto do século em que vivemos, mas para o homem primitivo as coisas não funcionavam bem assim.O homem primitivo tinha o Sol, a Lua, astros e estrelas como deuses,deusas e etc. A afirmação da dualidade da natureza que se dá pelo contraste dia e noite, era percebida pelo homem antigo de outra maneira...Na antiguidade, as culturas agrárias reverenciavam o Sol como símbolo Maximo de divindade, eram culturas que valorizavam a belicosidade, a conquista e a divisão de territórios e as culturas que se dedicavam a caça, cultuavam a lua.Aqueles que cultuavam o Sol eram de inclinação marcial e bélica, e os que cultuavam a lua eram de inclinação sensorial e matriarcal.Percebe se claramente a predominância do positivo(másculo , solar , vigoroso, combativo) por parte dos agricultores, e do negativo (feminino, sensorial, intuitivo e umido)por parte dos caçadores.Hoje, distante do tempo em que os “ancestrais históricos” de tais culturas declararam que o divino estava visível no céu, chamamos o Sol, Lua, estrelas e planetas de Astros, corpos celestes e etc.A ciência trouxe o racional a “luz” e hoje encaramos as divindades depostas como objetos que se encontram no céu a obedecer leis mecânicas.A dualidade é um imperativo na historia da humanidade.Assim o é com a imagem.Tenho aqui em minhas mãos uma reprodução em impresso de um quadro de Caravaggio que data de 1602, intitulado São Matheus, aonde não figura planeta algum, e sim, um anjo, o mediador entre aquilo que vemos e oque não vemos, e embora o jogo de luz e sombra não privilegie nenhum mas que o outro, o Anjo encontra se enrolado em um tecido de extrema alvura, e uma aureola se insinua ao redor da cabeça do Santo.Justo no ano em que Kleper publicava sua defesa da astrologia, nada podemos encontrar de referente aos planetas que não seja a semelhança do anjo com algumas representações de Heros, filho de Afrodite (vênus) e amante de psique...E é para pisique que devemos voltar os olhos agora para podermos continuar esse pequeno ensaio sobre a questão da Luz no cinema.Não podemos jámas sermos crédulos como a geração de nossos avós, mas não há como nos vermos livres das imagens sugeridas por esses anos de historia e “estória”...Os signos, símbolos, arquétipos e etc, estão entranhados na psique coletiva a nível inconsciente.Aqui reside mas um fator dicotômico que gostaria de salientar.Por mas que o dr.Freud fosse antagônico a hipótese de inconsciente coletivo de Jung, a grande maioria dos complexos e funções catalogados por Freud, foram batizados com nomes de mitos ou de personagens da literatura clássica...Complexo de Édipo, de Eletra, de Peter Pan, de Sinderela, Eros, Psique...Parece haver ai uma concordância mesmo que “inconsciente” de que o mito é uma verdade psicológica auto gerada e constantemente reciclada de acordo com as exigências do tempo.Nosferatu é um filme que não goza da tecnologia que temos hoje.Falemos um pouco de Lavoura Arcaica de Luiz Fernando Carvalho, considerado um marco da retomada.A cena de abertura é escura, o quarto é escuro, e a falta de iluminação reflete uma profunda solidão e inclinação ao isolamento.Nas cenas que retratam a infância do personagem, há claridade...os tempos eram outros e ricos em atribuições domesticas, tudo é bom e parece seguir o fluxo da natureza, aquele desejo proibido ainda não veio a luz, ainda não se evidenciou, ainda não se afirmou como produto da sombra...Há um contraste evidente entre luz e escuridão que se presta ao conflito intimo da personagem e ao conflito do mesmo com os padrões morais.Como Freud já dizia, “A essência dá sociedade é a repressão do individuo.A essência do individuo é a repressão de si .”
Em
dado momento ainda nos primeiros minutos do filme, o irmão mas velho
diz que as venezianas estão fechadas. Quando o protagonista abre a
janela, a luz invade o ambiente, o titulo invade a tela, o quarto se
torna mas iluminado e o fio condutor da historia se revela.Há de se
lançar luz em um assunto obscuro nessa “versão ao avesso da parábola do
filho pródigo”. Mas a luz embora mas abundante do que a principio,
continua tímida, os rostos e o ambiente sujeitos a sombra e hora sim
hora não se enxerga o tremeluzir de uma vela.É quase o mesmo efeito dos
momentos que retratam a homilia do patriarca, aonde a Luz é menos
tímida, mas o ambiente continua escuro, oque não acontece nas cenas
domesticas de dia, mas a iluminação nesses momentos sempre cria a
impressão de que a luz é natural, de que não há eletricidade naquele
local, tanto é que no momento em que a família se reúne, temos o lampião
a figurar como a fonte de iluminação.Quando retornamos ao quarto de
pensão, a metade do rosto do personagem está tomado pela escuridão
enquanto ele declara que a claridade do lar paterno passou a perturbá-lo.Aquele
individuo procurava mergulhar em sua própria sombra afim de chegar a
alguma resolução, afim de encontrar alguma luz que fosse alternativa.
Percebesse ali como em diversos momentos da projeção uma relação entre a
iluminação do ambiente e o conflito psicológico do filho pródigo.
“...E
era no bosque atrais da casa....De baixo das arvores mas altas que
compunham com o Sol... o jogo alegre e suave de sombra e luz ..."
O
of oriundo do romance homônimo dá Tonica a cena que abre com um passeio
da câmera pelo local absolutamente campestre onde se dará uma festa.A
luz diurna nos parece tão natural que quase pode se sentir a sombra das
arvores.Andre está sentado a sombra de uma arvore enquanto a festa
acontece e se põe a contemplar a irmã, objeto de seu desejo.Ana veste um
vestido alvo que reflete a luz.Dança angelical e sensualmente. A bela
Ana dança e vez ou outra olha para André.André permanece fora da festa a
observar, tendo seu conflito velado aos presentes, procura umedecer os
pés, aplacar o calor do corpo, da alma, dali de onde estava, presente
mas distante da tradição. O vestido de
Ana reflete a luz e o jovem André permanece no escuro, aquilo que
deveria permanecer oculto queimava lhe as entranhas, perturbava a
conciencia.A beleza e a sensualidade da irmã, abriu - lhe horrenda
chaga.
A
paleta econômica, quase isenta de corres vibrantes, os tons cinzas,
azulados, verdes e pagãos, comunicando se com a luz que escapa de entre
as brechas das copas de arvores imponentes e seculares... aquela luz
ruralista e agrária.
O
filme intenta em que instinto, razão, tradição, ruptura, rebeldia e
autoridade, dialoguem por todo tempo de projeção.Nesse filme em
particular , a luz se presta ao nosso testemunho do conflito moral ,
social e familiar de André e Ana , a tragédia incestuosa e quase
edipiana , que cumina na seqüência final aonde Ana dança como Salome
desejosa da cabeça de são João já que o corpo do santo não lhe era
permitido.Ao perigo de desejos que deveriam permanecer inconfessos, em
tornar visível, o que comumente não se vê! O “jogo de luz e sombra” quer
refletir o jogo de luz e sombra do mundo intimo de André e Ana.
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