quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Pé de Cabra


Pé de Cabra - Direção Pomba Cláudia - Cinergia Filmes

Pé de Cabra Teaser

Assombrado por estranhas alucinações, um homem é levado a firmar um pacto com o demônio para ter sua vida de volta, devendo entregar o sacrifício ideal em três dias. No entanto, ele não contava que Belzebu possuiria o corpo de sua esposa enquanto isso.

Haunted by strange hallucinations, a man is taken to sign a pact with the devil to get his life back, should deliver the perfect sacrifice in three days. However, he did not count that Beelzebub would possess the body of his wife in the meantime.



Curta

Um homem, envolvido em um estranho ritual, tem três dias para buscar o presente ideal ao Belzebu com quem fez um pacto. Enquanto isso, a mulher amada continua possuída pelo demônio.


A man involved in a strange ritual, have three days to find the ideal gift to Beelzebub who made a pact. Meanwhile, the woman he loves is still possessed by the devil.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Cinema Independente

Magnum Borini e os participantes da sua Oficina de Criação e Produção Cinematográfica, gravação do curta Colecionador de Sacis. Ator: Cesar "Coffin" Souza.

sábado, 26 de setembro de 2015

VIDEO HISTÓRICO E INEDITO SOBRE TORTURAS NO BRASIL - 1ª Parte



A Report on Torture (1971), de Haskell Wexler e Saul Landau.

Foi filmado no Chile, logo após a chegada dos 70 presos políticos brasileiros trocados pelo embaixador suíço. É um documentário com cenas fortes (há reconstituições de vários tipos de tortura). Engraçado que não haja a menor menção a esse documentário aqui no Brasil (pelo menos, nunca vi nenhum comentário a respeito).
Quem quiser, pode assisti-lo aqui: http://www.linktv.org/programs/brazil-a-report-on-torture
Os idiomas usados no documentário são majoritariamente português e espanhol, com legendas em inglês.
Para quem fala inglês, há uma pequena introdução de quinze minutos, na mesma página, com os autores do documentário, falando, recentemente, sobre como foi feito. Eles estavam no Chile, para entrevistar Salvador Allende, e, enquanto esperavam para marcar a entrevista, ficaram sabendo da chegada do grupo. Resolveram entrevistá-los. É um documento histórico. Um dos entrevistados é o Frei Tito, que, mais tarde, veio a se suicidar (em 1974, na França), assim como uma outra entrevistada, Maria Auxiliadora Lara Barcelos, que também se matou (em 1976, em Berlim).
No vídeo, aparecem também Jean Marc van der Weid, ex-presidente da UNE e Nancy Mangabeira Unger, irmã do ex-ministro.
Seria interessante saber se alguém consegue identificar os entrevistados e o que foi feito deles nos anos seguintes. Jean Marc e Nancy, pelo que descobri, estão vivos e atuantes.
https://www.youtube.com/watch?v=yFfD4f-lg8w

Copie e cole o link acima ou o abaixo no youtube.

Aqui: https://www.youtube.com/watch?v=yFfD4f-lg8w

quinta-feira, 30 de julho de 2015

As Anáguas Molhadas


Nada n'água, anágua da mulher/amor
Que nada, não nada, mas caminha sobre a água
E foi a águia que pegou a sereia d'água
Disse; tu não és águia e sim água e nado em ti
Mas a égua esperava mais do que belas saias
Não tardava a espiar as coxilhas dos desaguados
Foi então que a confusa águia pousou na égua
Desencantada com os murmúrios dos mortos desaguados
Libertandando a sereia d'agua que era égua, águia e d'agua
Assim se fez a esperança, de que um dia, a águia, 
Em cima da égua vomitasse sobre um copo vazio, 
Que esperava se encher de águias
E em plena comunhão dos 'ás' e 'és' que surgiu a cobiça
Cobiça dos 'd'os'e d'olhos
Assim como os alados caralhos que alertados pelos
Vorazes d'olhos farejaram sereias e anáguas
E a mulher, mãe d´água, pai d´égua, que esperava um dia ser 
Voar como uma águia, nada mais era
Que a terra pés, com suas anáguas, olhos d'agua e todas as solidões 
Fantasias de sereia a espera do não digo, mas do falo voador
Seguiu, não para Acrópole em Atenas e sim para a cópula sem anáguas 
Com olhos d'agua, sonhos de sereias e voos de águias

Simch e Luiz Fernando Costa (Gordinho)

sábado, 31 de janeiro de 2015

Georges Wolinski

Georges Wolinski (Túnis28 de junho de 1934 — Paris7 de janeiro de 2015) foi um cartunista e escritor de quadrinhos francês. Foi assassinado no massacre do Charlie Hebdo, um ataque terrorista ocorrido em 7 de janeiro de 2015 em Paris.
Aquarela s/ papel canson.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Makembe 50º

Makembe 50º


Capítulo um
Makembe
O relógio na praça central, de onde saíam às dez vielas que formavam o vilarejo, marcava 42º.
 Turíbio (Boca de Sapo) Fortes, prefeito do município de Makembe achara mais importante
 colocar na praça central um grande relógio digital marcando, temperatura, hora, dia e mês do ano,
 do que fazer saneamento básico e levar água potável para dois terços da população de 4000 pessoas
. Armandão, assim conhecido pela sua estatura, pouca conversa e pouca paciência já tinha opinião
 formada sobre “Boca de Sapo”, era assim que o prefeito Turíbio era conhecido e pronto.
 Cidade pequena, quando o apelido pega não tem para onde fugir. “Inclusive o prefeito usou
 o slogan ‘ A lagoa pode estar poluída, mas o Sapo não” Vote em Boca de Sapo para prefeito.
 Armandão encharcado de suor fez sinal de mais uma pinga para Neutacir, dono do ensebado
 boteco. Neutacir tinha seu boteco lotado, com as figurinhas carimbadas, assíduos e até
 frequentadores eventuais. Mas o silêncio era tão grande que se podia ouvir o zumbido das
 moscas na s exatas duas horas da tarde, como marcava o insuspeito relógio. Todos pareciam
 esperar um grande acontecimento. Repentinamente, na viela três, casualmente a que ficava
do outro lado da praça e diretamente em frente ao bar, parou uma charrete com toldo e dela
desce Diamantina, a terceira esposa do Boca de Sapo, que tinha um terço da sua idade.
 Armandão levantou-se e todos puderam ver seu marca touro nas costas e o quarenta e
 cinco na barriga, ambos enfiados na guaiaca, espécie de cinto largo com vários bolsos
 coldres e presilhas. Albeneir, disse Armandão com sua voz calma de trovão, ao bigodudo
 de chapéu enfiado que parecia dormir sentado a seu lado. Traga o cocheiro.
 Mal terminou de falar o homem que apresentava uma sonolência pachorrenta agora voava
 em seu zaino em direção à charrete. Mesmo com o silêncio não se ouvia palavra pela distancia
 do bar a charrete com a grande praça do relógio no meio. Mas se assistia a tudo como um
 filme mudo, Diamantina parada com duas maletas e o cocheiro no chão, atirado com apenas
 um safanão de Albeneir. Bota de garrão no pescoço, o Urubu, assim era chamado o cocheiro
 foi desarmado por Albeneir, inclusive requisitando sua espalha-chumbo acoplada em baixo
 do banco da charrete. A mulher abriu a bolsa e o telefone velho e ensebado do boteco do
 Neutacir trinitou quatro vezes, todos estavam paralisados com os olhos em Armandão,
 inclusive o botequeiro que não ousou tocar no telefone, na quinta Armandão atendeu
 e disse, venha até o meio da praça e fique na sombra da geringonça, era assim que
 ele chamava o relógio do prefeito que agora marcava 43º, mas a sensação térmica devia
 passar dos cinquenta. Quando a moça de costas para a cena da charrete chegou à sombra
 do relógio, Albeneir Disparou o 38 cano longo na cabeça do Urubu. “PEC” foi o único
 barulho que se somou aos zumbidos das moscas. 
Fim do primeiro capítulo segue em breve.


Segundo capítulo
Mazembe
Armandão esperou Albeneir voltar e antes que esse descesse do cavalo foi até ele.
 Mandei trazer o Urubu e não matá-lo. Quando o atirei no chão, peguei o cano
 curto e a espalha chumbo e senti uma coceira no saco. O feledaputa tinha um
 22 na manga e tentou me acertar o estômago, se não atiro estou morto,
se bem que bala de vinte dois tiro com a adaga e boto creolina por cima
 e estamos conversados. O grandão sacudiu a cabeça em aprovação e disse;
 ele vai juntar os jaguar e vem com tudo, pega os cavalos que vou charlar com
 a china. Albeneir fez a volta no boteco e veio com dois alazões pretos e olhou
 o caminhar ébrio de Armandão que se dirigia ao relógio. Todos os fregueses
 se amontoavam na porta, mas, ninguém se atrevia a por o pé para fora. Gordo,
 disse Albeneir para Neutacir, o bolicheiro, enche um saco com pinga, 3 kg
 de charque e muito torresmo, ah, carrega também no fumo de corda e atirou
 quatro patacas de ouro no chão. Eu pensei que a princesa não vinha,
 disse Armandão a Diamantina. E eu pensei que teus tempos de assassino haviam
 terminado. Hoje não matei ninguém, respondeu. Mas o Albeneir matou
 o Urubu, que é quase a mesma coisa. Princesa, ele só fez o furo quem
 matou foi deus e de mais a mais o safado atirou nele, mesmo deitado,
 para matar. Qual resposta tu esperavas de um índio xucro como Albeneir?
 Eu vim para fugir com o homem que amo e não para viver de saques
 e mortes, desabafou Diamantina. Agarrando as malas o homem disse,
 vamos montar e sumir para viver em paz, tu te apaixonaste por mim
 por saber que faço o que é certo no meio da injustiça total. Albeneir
vinha a trote puxando os dois ‘marca peixe’ e a mulher seguia seu amor
 sem olhar para trás. Mas Armandão sentiu a maldade quando o seu capanga
largou os dois cavalos e se agarrou, à moda Charrua/ Minuano, na lateral
 do garanhão e foi torneando a praça.
Breve 3º capítulo.


Makembe
Capítulo terceiro
Cinco capangas entraram pela viela dois e mais cinco pela viela oito,
 Boca de Sapo ladeado de Tristonho e Preto Boi entraram pela viela três
. Gauchos sem terra e sem lei que arrumaram emprego e acolhida com o
 prefeito, que em verdade era o coronel do vilarejo, com amplas extensões
 de terra e sem satisfação a ninguém. Quanto mais nome um homem
 matador tem mais os jovens querem mata-lo. Toneco disparou o pingo
 em direção ao casal na praça, 50º graus era pouco, faça chuva ou faça sol
 Armandão não tirava o poncho, apenas o jogava para as costas e debaixo
 desse um winchester de repetição que explodiu a cabeça do jovem Toneco.
 Albeneir disparava a kalashnikov, protegido pela traquitana do prefeito,
 matou seis e ainda deixou que Diamantina e Armandão subissem nos alazões
 Mas Armandão com um gesto mandou que Albeneir e Diamantina sumissem
 pela vilea dez a que levava ao campo com suas boçorocas, capões e
 irregularidades traiçoeiras. Em cima do cavalo, sob fogo cerrado de metralhadoras,
 pistolas e revolveres, como um alvo imóvel mirou a testa do prefeito e puxou o gatilho.
 Tiro dado, bugio deitado. Tiro certeiro de duzentos e cinquenta metros e contra o sol.
 Morto o patrão Tristonho e Preto Boi, assassinos pagos, não viram mais futuro
 em enfrentar Armandão, pois logo teriam outro chefe a defender e agricultores a matar.
 Mas os jovens gauchos da linha de frente, movidos por uma moral incompreensível,
jamais conseguiriam voltar para seus chalés com o gosto da derrota e atacaram atirando
 com armas pesadas o solitário Armandão que já embalado no cavalo, ao invés de entrar
 na viela para a fuga adentrou com seu bicho preto no boteco do Neltacir, voou por cima
do velho balcão e saiu com cavalo e tudo levando a porta dos fundos por diante. Viu ao
 longe Albeneir e Diamantina, mas seguiu para outro lado com cinco jovens gaúchos a
 lhe alvejar. No galope ferrado, com cocurutos, sobes e desces é difícil dominar uma
 metralhadora e foi assim que Adãozinho matou Orfeu que ia a sua frente. Agora eram
 quatro, as duas garrafas de cachaça começavam a estremecer Armandão que parou,
 se virou e viu os jovens gauchinhos caçadores de fama, soltando fogo pelas ventas
 e pelas armas pesadas. Eram ginetes a toda prova, cavalgavam seus pingos atirando
 com as duas mãos. Distava uns 300 metros dos inimigos e com o 38 na direita e
 o quarenta e cinco na esquerda esporeou o mancha negra e foi em direção aos seus
 perseguidores, com tal inversão suicida desconcertou os gauchos e com isso os
 deixou alvos mais fáceis. Estourou a cabeça do Xiru, um dos quatro e abaixo
 de balas matou o Carneiro, a melhor pontaria da jovem gauderiada. Em seguida
 quase a queima roupa derrubou Machuca, paraguaio atirador, mas não matou e deu
 mais um tiro na cabeça para completar a obra, só que se esqueceu de Adãozinho que
 com um balaço lado a lado arrancou sua orelha, retribuindo atirou para matar o safado,
 mas o quarenta e quatro só fez clique, tambor vazio. Postou o zaino de lado para que
 seu adversário tivesse menos ângulo, os cavalos quase bufavam um no rabo do outro
 em uma circular dança macabra, Antes que Armandão conseguisse sacar o cano curto
 preso à bota tomou mais dois tiros um de raspão no pescoço e outro no ombro,
 os cavalos e cavaleiros estavam exaustos, mas Adãozinho excitado por estar a matar
 o maior matador vacilou e foi quando Armandão pulou na garupa do cavalo do inimigo
 e com seu marca touro lhe pôs a gravata vermelha.
Breve capítulo final.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Schopenhauer e Tolstói

... encontros que foram sinais provenientes de uma vida mais intensa, uma vida que não tem sido encontrada.

O que não pode ser esquecido reaparece em sonhos ... meio adormecido, quando os eventos ainda são tomados como real, brevemente. A origem a tornar mais clara, mais nítida, mais razoável, como em tantas manhãs ... a memória da noite anterior. Seguida de; "era apenas um sonho",novas realidades foram ilusórias e você não pode voltar. Nada que você possa segurar. Esses sonhos são do passado não resolvido, iluminam momentos antes bons logo ruins, confusão e dúvida. Fornecem uma revelação dormente, esquecida, como deve ser.
Sobramos na luz do dia, as perspectivas que têm significado...

parte de poema. Muito pesado para por de uma só vez...uma tonelada.

Simch

domingo, 11 de janeiro de 2015

A “obra completa/aberta” de Rafael Sica






http://esimch.blogspot.com.br/2015/01/a-obra-completaaberta-de-rafael-sica.html?spref=fb

Desde que os artistas entenderam a importância do diálogo obra de arte/observador, os movimentos artísticos sucedem-se na história tentando alcançar um clímax, clímax que denomino de “a obra completa,”, ou seja, quando o observador para em frente à obra e sente, pensa, ignora, ou ‘completa’, só nesse momento é que a obra se conclui. Essa idéia permeou vários movimentos da história da arte e é intrínseca da arte contemporânea. A obra completa quase acontece com Kazimir Malevich e seu suprematismo, (branco sobre branco), com Joseph Beyus e suas esculturas e performances, baseadas na queda que teve na adolescência 
pilotando um “escuda da juventude nazista” na 2º guerra. Salvo das ferragens por nômades Mongóis das estepes russas, cuidado com graxa de cabra e curado,voltou só no fim da guerra, foi preso, largou a farda, ideologia e se transformou em grande artista /humanista. Ou  Marcel Duchamp com seus ready mades. Hoje é buscada incessantemente nas happness, na arte conceitual e nas instalações contemporâneas. Sem as parafernálias tecnológicas, usando a linguagem gráfica, mais especificamente o cartum, Rafael Sica chega lá. Com tiras de humor mudo e instigante, o artista consegue passar uma mensagem explícita e ao mesmo tempo dúbia, ocasionando um leque de interpretações a quem as observa, fato comprovado pela simples leitura dos comentários deixados em seu blog. Interpretações que na maioria diferem da intenção original do autor, mas nem por isso deixam de fazer nexo à obra. Sendo assim o artista Rafael Sica consegue o que há muito vem se tentando, o acabamento da obra através do pensamento do observador, ou seja, Rafael Sica atingiu a "obra aberta/completa".

Eduardo Simch
1997


sábado, 20 de dezembro de 2014

Dentes e Baganas


Brancaleônica guerrilha, heróica, poética, visionária, pretenciosa, ingênua, torturada e mártir. Otilha,19 anos. Recorde,140 horas sem cantar.
O sangue escorria, os pedaços ficavam no ralo entupido de cacos, cascas de banana e centenas de pontas de cigarros. Para de fumar tenente!
"Dói mais em mim do que em ti," disse o canalha. Nunca esqueci o olhar, não o do verme, o da moça, é o mesmo de hoje.
Contei 16 pauladas nas costas com um 8x8, pedaço de pau de 8cm X 8cm usado para espancar presos, ela vomitava mas não dizia palavra. Adiantavam o relógio, pois 24 horas sem comunicação a guerrilha saia do "aparelho".O preso resistia 24hs e aí podia falar q ninguém seria pego.
Ciente da maracutaia dos torturadores, perdida no tempo mas firme no caráter sofreu horrores e não cantou. 140 horas.Taquiupariu!!
Tosca e coberta de zinco é a Cadeira do Dragão. Uma ponta do fio foi enrolada no canino e a outra introduzida na vagina. Lá vem a "maricota".
Urro apavorante, urina, fezes, lágrimas e sangue. Oito vezes. O chorume trouxe a baga de cigarros, algemado peguei e mastiguei. Amarga é a vida.
Abri os olhos em dois minutos, Otilha passava a mão na minha cabeça.Vestia um casaco de fatiota puído sobre o corpo nu."Seis dias," falou. "Dois minutos" discordei."Seis dias" enfatizou com lábios esborrachados de pancadas.
"Porque continuo algemado" quis saber. Otilha chorou.
"Abraça os joelhos" disse "Branco" e passou o cano de ferro entre meus braços e pernas. Pau de Arara. Olhava no chão uma coluna de formigas. O tenente lustrava os coturnos, Branco não cuidava os sapatos, não via além de um metro do chão. Dois dentes cairam por cima das formigas.
Cocei a cabeça com as duas mãos, só então notei que estava sem algemas. "Água?" ofereceu o preso barbudo, bebi tudo."Que dia é hoje?" indaguei.
"Nós vamos sair", disse o homem. "Sequestraram mais um embaixador", completou.
Um metro e oitenta e três de altura e 53kg entrei no avião.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014


Bochincho 
Autoria: Jayme Caetano Braun
A um bochincho - certa feita,
Fui chegando - de curioso,
Que o vicio - é que nem sarnoso,
nunca pára - nem se ajeita.
Baile de gente direita
Vi, de pronto, que não era,
Na noite de primavera
Gaguejava a voz dum tango
E eu sou louco por fandango
Que nem pinto por quireral.

Atei meu zaino - longito,
Num galho de guamirim,
Desde guri fui assim,
Não brinco nem facilito.
Em bruxas não acredito
'Pero - que las, las hay',
Sou da costa do Uruguai,
Meu velho pago querido
E por andar desprevenido
Há tanto guri sem pai.

No rancho de santa-fé,
De pau-a-pique barreado,
Num trancão de convidado
Me entreverei no banzé.
Chinaredo à bola-pé,
No ambiente fumacento,
Um candieiro, bem no centro,
Num lusco-fusco de aurora,
Pra quem chegava de fora
Pouco enxergava ali dentro!

Dei de mão numa tiangaça
Que me cruzou no costado
E já sai entreverado
Entre a poeira e a fumaça,
Oigalé china lindaça,
Morena de toda a crina,
Dessas da venta brasina,
Com cheiro de lechiguana
Que quando ergue uma pestana
Até a noite se ilumina.

Misto de diaba e de santa,
Com ares de quem é dona
E um gosto de temporona
Que traz água na garganta.
Eu me grudei na percanta
O mesmo que um carrapato
E o gaiteiro era um mulato
Que até dormindo tocava
E a gaita choramingava
Como namoro de gato!

A gaita velha gemia,
Ás vezes quase parava,
De repente se acordava
E num vanerão se perdia
E eu - contra a pele macia
Daquele corpo moreno,
Sentia o mundo pequeno,
Bombeando cheio de enlevo
Dois olhos - flores de trevo
Com respingos de sereno!

Mas o que é bom se termina
- Cumpriu-se o velho ditado,
Eu que dançava, embalado,
Nos braços doces da china
Escutei - de relancina,
Uma espécie de relincho,
Era o dono do bochincho,
Meio oitavado num canto,
Que me olhava - com espanto,
Mais sério do que um capincho!

E foi ele que se veio,
Pois era dele a pinguancha,
Bufando e abrindo cancha
Como dono de rodeio.
Quis me partir pelo meio
Num talonaço de adaga
Que - se me pega - me estraga,
Chegou levantar um cisco,
Mas não é a toa - chomisco!
Que sou de São Luiz Gonzaga!

Meio na volta do braço
Consegui tirar o talho
E quase que me atrapalho
Porque havia pouco espaço,
Mas senti o calor do aço
E o calor do aço arde,
Me levantei - sem alarde,
Por causa do desaforo
E soltei meu marca touro
Num medonho buenas-tarde!

Tenho visto coisa feia,
Tenho visto judiaria,
Mas ainda hoje me arrepia
Lembrar aquela peleia,
Talvez quem ouça - não creia,
Mas vi brotar no pescoço,
Do índio do berro grosso
Como uma cinta vermelha
E desde o beiço até a orelha
Ficou relampeando o osso!

O índio era um índio touro,
Mas até touro se ajoelha,
Cortado do beiço a orelha
Amontoou-se como um couro
E aquilo foi um estouro,
Daqueles que dava medo,
Espantou-se o chinaredo
E amigos - foi uma zoada,
Parecia até uma eguada
Disparando num varzedo!

Não há quem pinte o retrato
Dum bochincho - quando estoura,
Tinidos de adaga - espora
E gritos de desacato.
Berros de quarenta e quatro
De cada canto da sala
E a velha gaita baguala
Num vanerão pacholento,
Fazendo acompanhamento
Do turumbamba de bala!

É china que se escabela,
Redemoinhando na porta
E chiru da guampa torta
Que vem direito à janela,
Gritando - de toda guela,
Num berreiro alucinante,
Índio que não se garante,
Vendo sangue - se apavora
E se manda - campo fora,
Levando tudo por diante!

Sou crente na divindade,
Morro quando Deus quiser,
Mas amigos - se eu disser,
Até periga a verdade,
Naquela barbaridade,
De chínaredo fugindo,
De grito e bala zunindo,
O gaiteiro - alheio a tudo,
Tocava um xote clinudo,
Já quase meio dormindo!

E a coisa ia indo assim,
Balanceei a situação,
- Já quase sem munição,
Todos atirando em mim.
Qual ia ser o meu fim,
Me dei conta - de repente,
Não vou ficar pra semente,
Mas gosto de andar no mundo,
Me esperavam na do fundo,
Saí na Porta da frente...

E dali ganhei o mato,
Abaixo de tiroteio
E inda escutava o floreio
Da cordeona do mulato
E, pra encurtar o relato,
Me bandeei pra o outro lado,
Cruzei o Uruguai, a nado,
Que o meu zaino era um capincho
E a história desse bochincho
Faz parte do meu passado!

E a china - essa pergunta me é feita
A cada vez que declamo
É uma coisa que reclamo
Porque não acho direita
Considero uma desfeita
Que compreender não consigo,
Eu, no medonho perigo
Duma situação brasina
Todos perguntam da china
E ninguém se importa comigo!

E a china - eu nunca mais vi
No meu gauderiar andejo,
Somente em sonhos a vejo
Em bárbaro frenesi.
Talvez ande - por aí,
No rodeio das alçadas,
Ou - talvez - nas madrugadas,
Seja uma estrela chirua
Dessas - que se banha nua
No espelho das aguadas