sexta-feira, 20 de abril de 2012

Espasmos de realidade

Texto: Kika Freitas


Redes sociais têm uma regra. Não é uma regra clara, que todo mundo saiba, mas é uma regra que a modernidade colocou -sabe-se Deus como- na cabeça de todos. 
Os relacionamentos agora são virtuais. E hoje aquela mentira deslavada, que em algum tempo (e eu ainda sou daquele tempo) era dita na cara, hoje, pleno 2012, tem uma linguagem própria para as pessoas saberem que é uma mentira. Ao mesmo tempo que tu tem aquela noção de reciprocidade sentimental - mas meramente virtual: Se tu puxou um papo hoje, amanhã é o outro quem tem de falar... senão esse sentimento tão lindo e pleno, rico em idealizações que a vida real cotidiana não vai destruir, não é recíproco. 
Seria isso uma coisa da pessoa não te achar legal? Bem apanhado? (Poder, pode. Mas pode ser que as pessoas realmente sejam ocupadas)


Mas a cura do câncer foi anunciada, as redes de remédios canadenses não querem pagar porque não terão lucro. E o que isso tem a ver? Oras, tudo! As pessoas estão buscando retornos e lucros imediatos que a realidade não traz mais. E não traz pelo simples fato de que o questionamento não vale mais a pena, o debate não constrói. Os prédios são altos e cinzas, as pessoas criaram grades para elas mesmas, gigantescas hastes de concreto, microssalas onde o trabalho é como num formigueiro. E ver realidades, reais ou não, ou que seja olhar para os pontos de vista alheios virou alvo de total temeridade: vale muito mais a pena idealizar um arco-íris numa realidade inexistente do que esperar que ele, de fato, venha. 




Valeria muito a pena se as pessoas estivessem mais felizes. Mas não estão. Adultos parecem crianças de 3 anos, querendo se mostrar peraltas para chamar a atenção, e crianças de 3 anos já nem dão mais atenção aos adultos, pois estão presas em seus IPODs ou em qualquer competição tecnológica com seus coleguinhas. parece que o bullying agora vai ser virtualizado nas classes mais altas, com difamações cotidianas no Facebook e Twitter. As classes mais baixas continuam levando suas mães e tias para a sala de aula, para espancar a professora que proibiu o pobre aluno de colocar fogo no cabelo de uma menina, em meio a ameaças sexuais. 


Aiai... nada mais certo que ver no que um sistema econômico dá a longo prazo. Há anos não se prega satisfação pessoal, e sim, geração de produto, renda e lucro. Viramos máquinas que, quando pensam em felicidade, logo esboçam um cargo público na mente. Assim como, aos poucos, vemos os filhos optando por seguir os passos dos pais que têm algum nome ou alguma empresa, vemos um índice de bebida e antidepressivos subindo, cada vez mais cedo. E quando se pensa em satisfação pessoal... ninguém mais sabe o que é isso! Construir tijolo a tijolo é muito difícil, e te gera uma casa que tu tem de sustentar. E é difícil assumir suas responsabilidades quando não pode manter todo o luxo que outros te garantiam, não?


Então faça isso. Coma carvão e polua, gire essa máquina monstruosa, as engrenagens estão aí! Siga o protocolo e seja a chave mais estável de um ciclo vicioso. É muito mais fácil manter a inércia do que ter força de levantar.

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